Refluxo no bebé

2019-07-22

Refluxo no bebé

O refluxo gastroesofágico (RGE) é definido como a passagem retrógrada involuntária do conteúdo gástrico para o esófago com ou sem regurgitação/vómito. A regurgitação (“bolsar”) em lactentes é definida como passagem sem esforço e não-projetada do conteúdo gástrico para a faringe ou boca. É uma condição fisiológica frequente, ocorrendo várias vezes por dia, principalmente após a refeição e não causa sintomas. Os bebés nestes casos são chamados de "bolsadores felizes". Ocorre sempre muito mais frequente no sexo masculino. A doença de refluxo gastroesofágico ocorre quando o refluxo do conteúdo gástrico induz sintomas que afetam a qualidade de vida ou produz complicações patológicas.
O refluxo em bebé recém-nascido pode acontecer devido à imaturidade do trato gastrointestinal superior e não deve ser considerado uma situação preocupante quando a quantidade é pequena e acontece apenas após a mamada. Cerca de 70-85% das crianças têm regurgitação nos primeiros 2 meses de vida, e isso resolve-se sem intervenção em 95% das crianças até 1 ano de idade. Porém, quando o refluxo acontece várias vezes, em grande quantidade e muito tempo depois da mamada, pode comprometer o desenvolvimento do bebé e por isso deve ser avaliado pelo médico.
O mecanismo predominante que causa a doença de refluxo gastroesofágico é o relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior, não relacionado à deglutição e de duração relativamente mais longa que o relaxamento desencadeado por uma deglutição. Outra causa identificada é o atraso no esvaziamento gástrico. Recentemente, identificou-se que o esvaziamento gástrico se encontra atrasado em crianças com alergia à proteína do leite de vaca, bem como de notar que ocorre doença do refluxo gastroesofágico associada à alergia à proteína do leite de vaca e contribui para a fisiopatologia deste problema. As duas condições encontram-se associadas em em 42-58% das crianças. Nestas crianças, os sintomas diminuem significativamente dentro de 2 a 4 semanas após a eliminação da proteína do leite de vaca da dieta.

Sinais e sintomas
Regurgitação e vómitos são os sintomas mais comuns do refluxo infantil. A apresentação típica do refluxo gastro-esofágico não complicado é uma regurgitação indolor, de golfadas de leite em pequenas quantidades após as mamadas sem esforço, numa criança aparentemente saudável e com crescimento normal - o chamado "bolsador feliz". A regurgitação geralmente é sem esforço e não é biliar, sem irritabilidade ou apenas desconforto mínimo.
No entanto, esse refluxo pode ser exagerado, podendo fazer-se acompanhar por sintomas como:
- Sono agitado
- Vómitos constantes
- Dificuldade em mamar
- Irritabilidade e choro excessivo
- Rouquidão, pois a laringe inflama devido à acidez do refluxo
- Dificuldade em aumentar de peso
Existe uma apresentação típica, que embora não seja a mais frequente, quando ocorre aponta diretamente para este diagnóstico - a síndrome Sandifer, uma distonia torcional espasmódica com arqueamento das costas, torção do pescoço e elevação do queixo.
Episódios de engasgamento, ou tipo sufoco/apneia, bem como tosse ou irritabilidade significativa podem ser sinais de alerta de doença do refluxo ou outros diagnósticos, e convém mencionar ao médico. Outras causas de irritabilidade, incluindo alergia à proteína do leite de vaca, distúrbios neurológicos, obstipação e infecção, deve ser descartadas.

Diagnóstico
O refluxo não-complicado não justifica a realização de exames. Porém, se houver apresentações atípicas, refluxo complicado ou não se verificar melhoria com as medidas e cuidados gerais, podem ser necessárias futuras avaliações diagnósticas, para confirmar esta situação e excluir outras hipóteses. Os exames a considerar incluem ecografia abdominal (antes e após alimentação), radiografia contrastada com bário, endoscopia com eventual biópsia esofágica, pHmetria esofágica e as medições de pH e impedância esofágica combinadas.

Cuidados
O ideal é prevenir o refluxo através de alguns cuidados, como evitar balançar o bebé, evitar vestir roupas que apertem a barriga, escolher uma boa posição durante as mamadas para que evitar a entrada de ar pela boca do bebé e afastar todo o contacto com fumo de tabaco.
Tentar fracionar as mamadas, de forma a dar menos alimento de cada vez e mais vezes. Além disso, depois das mamadas é aconselhável colocar o bebé para arrotar, na posição vertical no colo do adulto por cerca de 30 minutos e depois deitar o bebé com a cabeceira do berço elevada cerca de 30 graus, colocando um calço de 10 cm ou um travesseiro anti-refluxo.
Quando estas medidas não são suficientes, é recomendado adicionar espessante ao leite (seja materno ou de fórmula) e se estiver com leite adaptado escolher uma fórmula AR (anti-refluxo).
Se não melhorar, será importante nesta fase ponderar a suspeita de alergia às proteínas do leite de vaca (APLV). A NASPGHAN e a ESPGHAN recomendam 2-4 semanas de uma fórmula extensamente hidrolisada ou fórmula à base de aminoácidos em lactentes alimentados com fórmula, quando o refluxo gastroesofágico não responde ao espessante e medidas posturais. Se for esse o caso, é de esperar uma melhoria substancial do refluxo entre 2 a 4 semanas após alteração do leite.
O refluxo é muito menos frequente em bebés a fazerem leite materno exclusivo. Mas nessa situação, a mãe terá de fazer evicção de produtos contendo leite ou derivados na sua alimentação.

Tratamento
Caso não se resolva o refluxo, após todos os cuidados, pode ser necessária a toma de medicamentos, como o Motilium ou Primperan ou Nexium (estes dois apenas aprovados após 1 ano de vida), de acordo com a orientação médica ou mesmo cirurgia para corrigir a válvula que impede o refluxo.
Normalmente, o refluxo desaparece a partir dos seis meses de idade, quando o bebé se começa a sentar e a comer alimentos sólidos.

Complicações
Complicações respiratórias incluem hiperreatividade das vias aéreas brônquicas, sinusite, laringite, ou até mesmo pneumonia recorrente por aspiração. Sabe-se que a estimulação de quimiorreceptores laríngeos por fluidos ácidos pode causar apneia.
Em alguns casos, aumenta o risco de ter otites.
Interrupções do sono e despertares são mais comuns em crianças com doença do refluxo gastroesofágico, possivelmente devido ao maior refluxo ácido noturno em uma posição deitada.

voltar

Últimos artigos

Dicas para umas férias de verão seguras com alergia alimentar
Manifesto contra o bullying por alergia alimentar
Irmãos e alergias alimentares: como não negligenciar as necessidades do seu filho não-alérgico
Alergias e sua relação com asma nas crianças
7 coisas surpreendentes que pioram as suas alergias
Um guia para o nadador português - Asma e alergias no nadador
CONTAMINAÇÃO CRUZADA
“PODE CONTER VESTÍGIOS DE…”, o que significa?
Alergia ao leite de vaca e alergia ao cão… Qual a relação??
Quais são as doenças alérgicas mais frequentes?